Cântico dos cânticos,
Vindo da solidão.
Ela não me beijará,
Pois não há beijos nas bocas
E vinho em abundância
Sevicia o amor.
Nenhum óleo,
Nem mesmo olhos são bons,
Nem percorrem meu colo
Num amar entre jovens.
Imperativo: arrasta-me!
Supliquei que corresse
E, rei, conduzisse-me ao seu quarto
Para gozarmos e regozijarmos
O vinho seviciante
Do amor dos amantes.
Se és negro de beleza rara,
Filho da cidade cinza,
Sou como as ruínas augustas
De um bar inconsolável.
Renegaram-me e renegam-me
Pois sou acinzentado.
Foram as fuligens que deram piche,
Guardando automobilísticas impossibilidades:
Nem na vida avancei.
Conte-me se há uma amada
Para mi'alma malamada,
Reservada em escanteio,
Escondida na sombra do meio-dia!
Quero ser o homem ao léu,
Aguardando que se me tirem o véu
E me podem como um carneiro.
Se não houver,
Direi a mim mesmo:
Sois o mais belo dos sozinhos,
Vai-te embora escrever poemas ao relento,
No pomar, na chuva e ao vento,
Junta-te ao remanso dos ascetas.
Mas quero amar e comparar
U'a mulher com o palácio da alvorada.
Pô-la-ia com os pingentes mais ricos,
E nos colos, colgemas e poemas.
Brincos de penas, num novo ambulante
Compraria e dar-lhe-ia com sorriso prateado.
Uma moça mimada,
Minha amada seria.
Durma em meu ombro, ventre.
Um cacho de frutas,
Paixão é para mim
Natureza morta entre os cacos das ruas.
Minha amiga não é bela,
Revoa como pomba quando me achego.
Nem belo, nem amado,
Sei ser meigo
Sonhando com um leito de ramos frescos.
Quero encher de cidra nossos corpos,
Deita-te em minha cama como cipreste.
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