segunda-feira, 6 de julho de 2020

Questões ao meu país

Para onde foram os sonhos de minha geração?
Para onde se encaminharão aqueles que sob o esforço do pensamento dedicaram-se aos saberes inúteis, os não contábeis, improdutivos, os saberes?
Para onde serão lançados os jovens esguios, ou nem tanto, que envergavam as costas na rotina petrificada das bibliotecas, nas salas bafejadas, nas estantes, os que liam avidamente Ovídio enquanto sonhavam com um mundo de amores?
Aonde terão lugar os que se sentem mais à vontade na pátria fictícia da literatura, junto ao encarquilhar da pele de Castorp ou ao deitar cedo de Proust, aqueles que seriam estralhaçados na Auschwitz de Jean Améry, por serem dispensáveis, os arautos da cultura letrada?
Aonde estão meus contemporâneos?

Lançados num destino famélico, serão os jovens intelectuais de um país triste? Jovens, os que frequentam postos subalternos, os que sofrem de um morticínio do futuro? Os lançados na fortuna, os que não terão família, nem legado, num país que lhes mata a sucessão?
Estarão fadados ao recanto eterno da felicidade do além-vida no aquém dos livros, o único lugar onde nas noites de desespero e angústia a esperança é reencontrada?