quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

Poésie

Sujet indéfinissable
Murmures prononcés par des cons;
Qu'est-ce qu'une poésie? Imprévoyable,
Elle est ce que les poètes font.

terça-feira, 19 de dezembro de 2017

Carmina (ou Do charme)



Há muito tempo adotamos em português a palavra "charme" para designar alguém ou algo que possui uma inexplicável atração estética sobre nós. Isto ou aquilo é charmoso.

Etimologicamente, desconheço se em português foi desta forma, mas em francês "Charme" é uma tentativa de transcrição da palavra latina "Carmen". Paul Valery a adota e nomeia uma obra sua como "charmes".

Carmen, Carmina em latim é como se diz "os versos", em sentido amplo, a poesia. Estas palavras se formam do verbo "canere", que é cantar, fazer compreender um som; mas também podem significar uma profecia, a resposta oracular, uma palavra mágica.

 Em grego se dizia que o poeta era um "enthousiaste", ou seja, assim como os oráculos, estava possuído pelos deuses. E foi esta noção que sobrevive na poesia latina e até em Ronsard, para quem o poeta era um inspirado.

Uma pessoa charmosa não seria aquela que nos soa como poesia, como um verso mágico, como uma beleza incompreensível e que nos encanta de maneira oracular? O próprio ensaio de explicação já torna o charme charmoso, poético.

domingo, 10 de dezembro de 2017

O último poema

Todo último poema
me parece meu último poema.
Nele tasco meu resto de vida e penso não mais caber.

Pobre de mim!
Sempre acho que a dor acaba.
O que não sei é que sempre há réstia para um último regaço

O meu último poema é sempre
meu último fracasso.

sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

disse um dia
o alguém marulhoso
terno
que entristecia a noite
plena

feliz é homem raso
raro
qual homem triste
de poema

A uma mulher, de Victor Hugo(1802-1885) - Tradução

Pequena! Sendo rei, dar-te-ias o império,
Carruagem, cetro, e meu povo de joelho,
E mi’a corrente d’ouro, meus banhos de porfírio,
E mi’as frotas, a quem o mar não é desidério,
Pra ser teu espelho.

Se eu fosse Deus, a terra e o ar com as ondas,
Anjos, demônios curvados à minha lei,
E o profundo caos de entranhas fecundas,
Eternidade, espaços, o céu que nos circunda,
Por ti que amarei.

terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Ensaio em Chauchat

Podendo dizer numa linha
Tua única e linda homenagem,
Mocinha, vendo a tua imagem
A face de Deus me avizinha.

Olhando teu dorso delgado,

Teus olhos cinzentos, quirguizes,
Teus braços, tuas cores, matizes,
O tempo adormece pausado...

Visando lançar meu tormento

Empenho o meu hábil pensar,
"É digno o duro lamento
Humano, progresso onde está?"

Volteio... e estou logo em ti!

Oriento-me ao oriental,
À tua doçura indolente,
Madame, minha dona vestal,

Malina, não mais me adoente

Pois quero te amar no Ural.


Excurso poético

Prestes a escrever mais um poema no papel, penso no poema que ainda não foi escrito, e deverá sê-lo, em nome dos poetas passados e repassados, passados, não ultrapassados, pois o poema, como a filosofia, é perene. Prestes a escrever mais um poema, que já começou a ser escrito, que talvez seja um mau, ou bom, poema, problema: o tema do poema é justamente o poema do tema, que dobra o passado imemorial e sempre presente dos textos já escritos – e que alguns ou muitos leram – mas sempre são os preferidos do poeta que escreve. Malsã, poesia-crime, presente inesgotável do poema inacabado: o poema só acaba quando acaba o homem, misto de morte e fome, insisto, de amor e renome. O poema a me escrever é a história, eu o escrevo com os que me escreveram, com os que me dotaram do amor, desejo: pelo poema. O poeta é o poema do poeta. O poema é a profecia do homem, o tempo-dobradura, quem impede a noite do esquecimento. O poeta-poema resiste na rua.