domingo, 30 de setembro de 2018

Com seus dedos compassados

Com seus dedos compassados,
Circula a leve luva e faz sol,
Ré, mi, faz em minha pele lados,
Esquadrinha meus ângulos,

Escuridão. Voz, ressoa o bé-mol,
Artista da pele, da fome, refrão,
Seus olhos agudos, profundo rincão
De teu país inabitável e inóspito.

Pele, pelo, pulmão,
Língua, lábio, óbito
Da razão.

Súbita sibila arde
Núbia nívia, mar de
Perdição.

terça-feira, 25 de setembro de 2018

Desirée

Tu es la seule que je rencontre
Dans toutes ces heures inoubliables,
Tu es la seule, tu es l'aimable,
Je suis le seul qui peux t'aimer.

Comment aimer dans l'haïssable
Destin commun des pauvres hommes,
Tu me demandes, je te réponds,
Il faut aimer l'impitoyable,

Il faut sourir, il faut amener
Dans notre vie l'instant sécret,
L'instant douleur, l'instant ancré,

Et desirer qu'on ne s'accable.
L'amour pour nous n'est qu'une fable
Et tu es son coeur, ma Desirée.

sexta-feira, 14 de setembro de 2018

Redentora

No descampado da alma, uma fenda,
Abismo vil de dentes assanhados,
Terreno ermo, cinza, acabrunhado,
É o pecado. Exílio do homem, senda.

Nem todo homem vive atormentado
Pelo imenso e insondável espaço,
Por não poder chorar num outro abraço,
O seu exílio, o seu nefasto enfado.


Mas, creias bem, que é na selva escura
De outro alguém, n'outra mortal loucura,
Onde reside a impura salvação.

Se nem chegada ao meio-termo a vida,
Se o destempero é profunda ferida,
Já sou tal homem; sois minha redenção?

sábado, 8 de setembro de 2018

Psiquê

Amor, amor, loucura de Deus,
Cruel penitência humana doce
Toque amargo gosto claro puro ateu,
Amanheci amando.

Amor, seduziste a alma, alegre fosso
Umbral pescoço arqueado; cera derrama.
Desmedida ira, eu amo e, ínfimo, sou flecha
Medida velha epigrama.

Amor feliz, não há.
A não ser ao imortal
Que me tornou.