terça-feira, 31 de julho de 2018

Paraty

Nas ruas pedregulhos
meu coração em cacos
paredes paradas linguagem
da reverberação nas vielas
bandidas silenciosas

suor e sonhos
ali
como um dali
derretem

entre
 livros artistas amores

quinta-feira, 12 de julho de 2018

coração
pobre coração
tu vales quase nada
no torpor, na alvorada
na criança abandonada,
nas tristezas, nos sonhos, além.

coração,
meu tolo coração,
tu és quase uma piada
nessa noite enluarada
latejando dentro de mim.

o que queres?
amar o mundo?
mas o mundo não se importa!
de que vale teu franzino amor?
curarás o infinito horror, torpe, real?
não!

por que queres amar o mundo?
o mundo não é so flor, beleza, calor,
é também dor, esplanadas, baladas...
e catastróficas realidades
portanto, meu coração
te aquiete!

Ou serás uma tiete incorrigível?

quarta-feira, 11 de julho de 2018

Queixumes

Onde estás, meu amor, meus vagares
Me distraem, me bagunçam teus passos,
É no mar que escondes teus rastros?
Ou nos montes guardada aos altares

Qual u'a deusa que rogo em crer
Na alta noite em que sonho com flores?
(Devaneios, magias, amores,
Peito alvo, brandura a arder).

Onde estás, meu amor, paradeiro
De utopias, teu corpo liberto
Ombreando meu talhe deserto,
Fantasia de um dia faceiro,

Um dia? - não, quero uma vida!
Pois a mim, um amor só me basta,
Se tragédia, Medéia ou Jocasta,
Tanto faz, pois vivo qual deicida

Aguardando um amor redentor.
Um amor bem real, com problemas,
Mas também com beijos, poemas...
E, sou fraco, um amor com transpor!

Onde estás, meu amor? bicho fero
É a mim que eu teimo a domar,
Entregando-me a cada olhar
Fugidio no entregar-me sincero

A mulher que ainda não tenho.
Que é fibra, riqueza e coragem,
É beleza, arrojo, imagem
De um ato heroico de antanho.

Onde estás, meu amor, heroína,
Desses tempos sombrios de viver,
Em que nascer mulher é sofrer,
Em que a força é toda feminina?

Onde estás, meu amor, minha menina,
Eu te rogo, venha proteger-me,
Eu sou frágil, vivo a esconder-me,
Suplicando, onde estás, minha carmina?!





miragem

as montanhas verdejantes
cobriram todo horizonte,
sorriso da claridade,
lumiando flor e fonte.

ao largo, um doce ser,
tristes olhos, meigo, só,
pensa o sol e a solidão
destinando-o ao pó.

as montanhas verdejantes
de bichos livres, possantes,
faz que sonhe a liberdade,

o amor, paixão, trindade...
e criando vai seu mundo
como um deus do caos profundo.










sábado, 7 de julho de 2018

derrota

a derrota abalou os copos
dos corpos plenos na multidão.
há goles secos, gritos obscenos,
     lágrimas
                     raiva
                                selfies
                                             rouquidão
                 derrota na bola

e quanto abala!
e tudo isso!

Há muito ódio, mato moliço,
ainda um homem de olhar roliço,
dizendo:

O inço será a eleição!




terça-feira, 3 de julho de 2018

Popular

viver uma vida sem ela
é morrer sem ter crendice,
ter no olhar uma remela
que deixa em plena doidice

minha cuca; mas doido sou são,
pensando na boca dela,
sonhando com a sedução,
com uma casa sem janela,

sem porta, uma fortaleza,
onde eu fosse um sultão
E ela fosse uma princesa,
Nós dois de dadas as mãos,

Nós dois em salivação,
Naquela casa quentinha,
Onde era sempre verão
Pois nem janela não tinha.

Ai da minha vida sem ela!
Hoje sem eira nem beira,
Eu vivo nessa mazela
De ter que escrever uma besteira

No tempo que tenho livre,
Quando não estou a rezar
Para então que ela me livre
Uma carta, um telefonar,

Dizend'os tempos vividos,
Tempos de plena loucura,
Não desse doido varrido,
Do nosso amor de doçura,

Que diga ter um castelo,
Faltando um cavaleiro,
De coração meigo e belo,
E amador por inteiro.

E o cavaleiro sou eu,
Um bobo alegre infante,
Querendo do mundo o céu,
Montado num rocinante,

Diga da minha loucura,
Que é coisa de alma bonita,
Alma tão rara, tão pura,
Mais rara que uma pepita

De ouro ou alazão ligeiro.
Raro como ter escuta,
Amigo, um companheiro,
Em mundo de luto e luta.

Ela, florzinha de espinho,
Queira também o meu cheiro,
O meu calor, meu carinho
Que sonha em domar seu veiro.

(Gosto, me firo e mais quero
Sentir a pele macia
Da dona do sonho fero,
Na cama, mato, bacia...)

Isso ela me dizia,
No meu sonho atormentado,
Mas nada, nada existia,
Apenas meu olho inchado.

Que falta, como é ruim!
Amar, não ser o amado,
Gostar e não ter pra mim
Seu beijo apaixonado...

Então, doidice, eu prossigo,
escrevendo esses versinhos,
Para que eu siga consigo
Mesmo seguindo sozinho.


domingo, 1 de julho de 2018

Odi et Amo

Odeio e amo. Vivo, no entanto,
Amargando cruel inclemência,
Maldizendo a estada e a ausência,
Sem tinir o abandono do pranto,
Pois odeio e amo; e em tudo emulo
A elegância sutil de Catulo,
Motejando o epigrama, porquanto

Odeio e amo! E não perguntais
O motivo de tal malquerença?
A culpada, irada e infensa,
A quem tanto versei os meus ais.
Mas não sei se há mesmo razões
De sofrer, pois nem há corações
Partilhados; há tristeza e cais

E despedida, e amor e ódio,
Ojerizo armando em batéis,
Os poemas que armei em papéis,
Pensando no amor, em um pódio,
E também ao mundo melhorar,
Porque é triste nos prados o amar,
Se o solo está coberto de sódio.

Temo e sinto. E não quero odiar
O amor que eu lha consagrei,
Mas pensando no quanto penei
Desconheço como transformar
A penúria, o amargo, a malícia,
A barbárie da nova carícia,
Num singelo e leve cantar.

Odeio e amo; eis o meu fado,
E eu tentei ser-lha bom, fui maldito!
E tentei ser-lha justo, eis delito!
Pois a filha da fruta é pecado
- Quantas ânsias, não fui pecador -
Do recado, ainda sinto o olor,
Te odiando, e amando, alternado.