sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Poesia dos sem poesia (fitando os smart)

Três versos, octassílabos
Talhado em pele o metal.
Se é um tanto mais ousado
Pode até tentar uma heróica
Um verso de quinze, talvez.
Dadá, protéica, um gole
De um verso da arte desfeita.
(Nega o verso prometeico,
Tornando à hybris o homem
Já sem fome de nada eterno.)

Você, do mundo um descarte,
Que fita tudo com alegria,
Repete em inglês: sou smart!
Na rede que insta azia.

Homem...
No mundo fomenta os ais
Com os I-pod, i-cloud, i-pad,
Todas as merdas que fomentais!

Faz um favor a si mesmo?
Com teu músculo bem torneado,
De pozinhos e coisas afins,
Cava uma cova profunda,
Enterre tua fronte ossuda
E o mundo vai ser mais feliz!

Noíte Ocídua

Eis mais uma noite ocídua,
Mas quem sua boca tocou
Não foi a boca assídua
Do homem que lhe amou.

Eis noite que vinha à míngua:
O ocre sabor da espera
Guardou-se em mim; e a fera
tocava-se em outra língua.

Soneto de amor estranho
Que fere num apeganho:
Amor que planeja a dor.

Em noite já tão ocídua
Feriu com espinho a flor
A nossa paixão decídua.

Viver

Viver é uma nonada.
No abismo do Ser
Há paixão mal tragada.

Viver é ninharia
Pois razão há de ter
Numa fúria sombria?

Viver, descalabro,
Sem razão há de ter
Ao macabro e glabro.

Viver é um falecer,
Uma constante morte:
O melhor é foder.