sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

miragem

a R.
a noite é um sertão,
eu fecho os olhos.

a pele dourada alaranjada
& cheiros dos mais diversos,
gavião.
luar e solidão.

tu és isso.

uma imagem
mais linda
do que miragem.
tu fundas a paisagem
em alegria e dor.
Há gente de todo desfrute,
Há quem só teima em penar
Em tempos, em outras paragens,
Há gente que trama ao andar,
Há os que só beijam miragens,
Tristezas e o vil perdurar.

Já eu só quero o desfrute
De sua aleivesa, me escute,
Das noites e do nosso lar.

Há homens, há outro azimute,
Há loucos de todas idades,
Artistas, e em outro lugar,
Há gente que trama maldades,
E planos de muito enricar.
Também há poetas e abades,

Que se em seu muito perscrute
Mirassem a beleza, oh Rute,
Veriam em ti, e te iriam amar.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

Pascal nos trópicos

Se inventassem algum jeitinho
De apequenar a vastidão
Ou se arranjassem algum caminho,
Uma estrada, um caminhão

Que travessando todo o espinho
Dessa Sua moita endiabrada,
Que dói e espeta, mata picada
Me acalentasse o coração.

Ou, se houvesse algum carinho,
A voz, alhures, uma oração,
ou algum santo, um diabinho,

Pra uma hora de adoração;
Talvez ao céu, oh meu painho,
Eu não chorasse a imensidão.



Não creio mais na filosofia do conceito,  leio apenas a vinculada à experiência.

Relatar a vida, relatar a experiência, como Agostinho ou Montaigne, refletir sobre o mundo como os historiadores clássicos, sobre Deus como Teresa de Ávila ou sobre a poesia como Rilke, sobre a filosofia como Conche; acabou se impondo para mim como a única alternativa de escrita.

Isso não é filosofia, nem poesia, nem literatura. Só são possíveis os Impromptus de Schubert, ou os Propos, de Alain.