quinta-feira, 29 de março de 2018

Quadras a um presidenciável

A Jair Bolsonaro
o candidato é uma farsa,
farsa que é fausta e boçal,
e aqueles a quem engraça,
de inteligência arnal,

exibem com'uma garça
o seu discurso fecal,
sempre tendo um comparsa,
que diz: tu és genial!

gênio é o candidato
que une toda a tolice
fazendo dela um retrato
a imagem de toda pulhice

de todo o desiderato,
de toda a maluquice,
do homem que é carrapato,
do homem em plena sandice.

o candidato é malino,
não sendo inteligente
sendo bronco como um dino,
-cadê meteoro? enchente?-

que tire o horror, baixeza,
de termos tal candidato,
um ser de tanta vileza,
e o ser se diz oblato

mas ama armas e guerra,
e o burro a ele chancela:
"na guerra por ele eu mato,
mito é ele, o outro, rato;

o outro é no pugilato"
pois vil como o candidato.
Então rogo ao sindicato
montemos o aparato

pois para os obtusos,
sou praga nestas encostas,
saber é ser um intruso,
e parvo é ser patriota.






segunda-feira, 26 de março de 2018

Veredas

encontrar alguém
e lançar-se
como bola de gude
ou fuligem
das que saem dos caminhões
nas metrópoles.

tudo é um pouco fuligem.

fugidias são as coisas de poetas:
sabem que caminhões
vagam sem setas
e a vida é sem destino.

lançar-se
como rilke.
amar como homens
não bichos
que somos
nas cidades.

amar outro ser desesperado.

Esperar como uma pluma
em céu
cinzento
o dia claro e a redenção.

pão com manteiga
é revolução
pra quem anda sempre faminto.

lançar-se como esfera
como satélite em órbita
de coisas nanicas.

lançar-se como o homem na língua
da mulher ou do povo.

desesperar
de arrancar os cabelos
ou cabeças.

sexta-feira, 23 de março de 2018

De Édipo

Alma, perdida alma,
Tramas sem ser sentida
Meu tormento de vida,
Meu fado que me espalma.

Tragicamente impávido,
Vago, e penso ser livre,
Quando em diatribe
Perco-me sendo ávido.

De púdicas carícias,
Cuidados, colo, seio.
Cálido é tanto o anseio,
Causas, Alma, malícia.

Vem-me depois a morte
De olhos a arrancar-me,
Nem ânimo ou alarme,
Salva a triste sorte!

Pois homem é deste carme,
Sem alma que o reconforte.

domingo, 11 de março de 2018

Amarar

Se não me amar
Não há mal.

Não me amarro,
Mas me amanho:

Se não me ama,
Eu me amaro...

Se te amares,
perdoa,
não te amo.

Desespero

Dou-me versos de desesperança,
Compostos com espinhos na carne,
Como se eu me entoasse um alarme:
Pois é tempo de deixar lembrança!

Finda a obra, é o fim do apuro.
Sempre há uma saída egóica:
A's incapazes de ética estóica,
A's incapazes de ser Epicuro!

Dou-me versos buscando a saída
Pra minha vida que não é maleita,
Que padece, que é obra suspeita,

Que ainda não foi conhecida.
Desespero não sendo um deus,
Mas um homem que teme o adeus.

segunda-feira, 5 de março de 2018

A Aurora

(tradução do poema de George Sand, pseudônimo de Amandine Aurore Lucile Dupin)

A natureza é tudo o que vemos,
O que queremos, o que amamos,
O que sabemos, tudo o que cremos,
Tudo o que sentimos em nós mesmos.

Ela é bonita p’ra quem a vê,
Ela é boa àquele que a ama,
Justa, é quando nela se crê
E se a respeitámos em si mesma.

Observe o céu, ele te vê,
Abrace a terra, ela te ama.
A verdade ela é o que se crê
Na natureza ela é ti mesma.

Não serei poeta de multidões

Não serei poeta de multidões,
Nem farei multidões de versos.
Nem marginal com meus botões,
Menos ainda serei o anverso.

Fortuna crítica, não a terei,
Nem a desejo, sou disto avesso,
Cansei-me cedo de toda lei,
Se logo a vejo, me enfureço.

Contar a ti meus sentimentos
Com um sofrimento tão anormal,
Forçando tanto um ornamento
Pr'uma emoção tola e trivial?

Não! quero estar nas ruas, nos muros, favelas,
dos banheiros na porta, guardanapos e telas.
(Misturo Ovídio com Jean d'Ormesson,
Riso prazeroso em uma bela oração....
Creio em profetas, mas eu os matei,
Bem sei, no primórdio, primeira era a Lei)
E quando me lerem os calças de flanela
Murmurem impropérios, que isto me chancela!