domingo, 1 de julho de 2018

Odi et Amo

Odeio e amo. Vivo, no entanto,
Amargando cruel inclemência,
Maldizendo a estada e a ausência,
Sem tinir o abandono do pranto,
Pois odeio e amo; e em tudo emulo
A elegância sutil de Catulo,
Motejando o epigrama, porquanto

Odeio e amo! E não perguntais
O motivo de tal malquerença?
A culpada, irada e infensa,
A quem tanto versei os meus ais.
Mas não sei se há mesmo razões
De sofrer, pois nem há corações
Partilhados; há tristeza e cais

E despedida, e amor e ódio,
Ojerizo armando em batéis,
Os poemas que armei em papéis,
Pensando no amor, em um pódio,
E também ao mundo melhorar,
Porque é triste nos prados o amar,
Se o solo está coberto de sódio.

Temo e sinto. E não quero odiar
O amor que eu lha consagrei,
Mas pensando no quanto penei
Desconheço como transformar
A penúria, o amargo, a malícia,
A barbárie da nova carícia,
Num singelo e leve cantar.

Odeio e amo; eis o meu fado,
E eu tentei ser-lha bom, fui maldito!
E tentei ser-lha justo, eis delito!
Pois a filha da fruta é pecado
- Quantas ânsias, não fui pecador -
Do recado, ainda sinto o olor,
Te odiando, e amando, alternado.

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