segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Kitsch

Hoje eu quis escrever um poema
Em que coubesse todo e qualquer tema:
Que abrisse toda a máquina do mundo
E que ainda pudesse ir mais a fundo.
Que reunisse dos poemas a sujeira,
Somando algo a poesia brasileira.
E com vininho bebesse toda alegria,
E escarrasse da boca a melancolia
De Dos Anjos, o nosso pré-moderno,
Que antecipou em tantas coisas meu caderno.
Ele mostrasse, de um jeito acalentador,
Poesia na dor, na flor, no elevador,
Mas lembrasse que são só primeiros cantos,
Como Gonçalves, que fez muitos outros tantos.
E clareando de um modo enigmático,
Escrevesse uma poética de pneumático!
Que gritasse todos os amores a Marília
Sem esquecer todos poemas de Cecília,
Essa mocinha que não foi de Botafogo,
E motivou, salvando-me o desassossego.
Mas eis o achado, surpresa ao desavisado.
Um poema visando compilação, ou rimas 
Simples com alguma erudição, são:
Poemas pobres e esculpidos em pastiche:
Só imitar os neopoetas rima kitsch.


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