quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

Relato

Escreve o poema suspeito!
Há muito mais do que contar:
Há sonhos que foram desfeitos,
Há homens chegando do mar.

Escreve e descreve a urdidura,
Que os deuses não vão perdurar
Sem paz na violenta doçura,
De ouro o sangue foi brilhar.

Escreve, que a escrita é lembrança
Dos tempos da chuva e das guerras,
Já foi-se o tempo da bonança,
O tempo de plumas, panteras.

Escreve depressa, ligeiro,
Que o tempo parou no instante
E chega o homem traiçoeiro
Romper o sol indo ao poente.

Escreve: tomamos escravos!
Não para os submeter,
Não para fazermos conchavo,
Para aos deuses nos apender.

Escreve: punhal, coração,
Do homem já sacrificado,
O bumbo, tambor da oração
Que ainda não era pecado.

Escreve o sonho perfeito,
O nosso sonho assassinado,
O sonho que um novo sujeito
Julgou vil e ultrapassado.

Escreve e registra a derrota
Que um dia hão de perceber,
Se ainda havia outra rota,
Agora haverá perecer...



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