Prestes a escrever mais um poema
no papel, penso no poema que ainda não foi escrito, e deverá sê-lo, em nome dos
poetas passados e repassados, passados, não ultrapassados, pois o poema, como a
filosofia, é perene. Prestes a escrever mais um poema, que já começou a ser
escrito, que talvez seja um mau, ou bom, poema, problema: o tema do poema é
justamente o poema do tema, que dobra o passado imemorial e sempre presente dos
textos já escritos – e que alguns ou muitos leram – mas sempre são os
preferidos do poeta que escreve. Malsã, poesia-crime, presente inesgotável do
poema inacabado: o poema só acaba quando acaba o homem, misto de morte e fome,
insisto, de amor e renome. O poema a me escrever é a história, eu o escrevo com
os que me escreveram, com os que me dotaram do amor, desejo: pelo poema. O
poeta é o poema do poeta. O poema é a profecia do homem, o tempo-dobradura,
quem impede a noite do esquecimento. O poeta-poema resiste na rua.
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