"Paris! Paris!
Rêve de tous les brésiliens
(excepté celui qui fait ces piètres petits vers libres)"
Carlos Drummond de Andrade, em Improptu.
Enquanto as flores
entram em Paris pela avenida elísia
os caminhos de Roma a
Lutécia escondem destroços
ossos, carcaças,
parcas, sujeira e violações.
Entrar em Paris, mas
por qual caminho?
Para Paris há duas
rotas, há dois lados.
Um lado das Mesdames.
De longe elas vêm para
casar
ou para encontrar
diversões nas compras da Capital sorridente.
Seus maridos, ou
filhos, ou simplesmente homens,
vêm a Paris para ver a
Tour
e as pernas morenas das
meninas do terceiro mundo
que ficam esperando na
Bois de Boulogne
por seu tesão de
infelicidade.
A tensão feliz que
possibilita que a outra Paris possa existir.
Quanta bondade!
No outro lado, a Paris
encrespada,
dos negros e das putas,
e dos árabes
assimilados.
Dizem amém em latim
nas igrejas do quartier latin
enquanto seus avós
torcem pelo Estado Islâmico
e para que o Rafale do
mesmo árabe
que poderia ser seu
filho
seja bombardeado por um árabe (ou Berber)
que grita glória a
Deus
- e também poderia ser
seu filho.
Abro guias de viagem
falando sobre Paris.
Cidade-luz, pernas nas
bicicletas, homens bonachões
Onde quero encontrar
alegria
só vejo a mesma imagem
suja da minha terra natal.
- A Europa nos ensinou a
sujeira
e vive querendo nos
ensinar como limpar.
Seus homens lambuzam-se
e regozijam-se
Da cana tomada, da
grana importada e da morena.
Sim, a morena eles
lambuzam e se deleitam.
E, por absurdo, que podridão!,
Propagandeiam a devassidão
De uma terra que eles
mesmo devastaram -
Paris, Paris, tu és tão torpe quanto minha São Paulo,
Só tem mais desfaçatez, querida...
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