quinta-feira, 21 de maio de 2015

Poema para rezar em voz alta

Prólogo:

Não tive nada na vida.
Da boca, apenas a culpa.
Soluço; proponho a saída:
um belo gole de cicuta!

Desenvolvimento:

Na boca mora o teu olho,
Vigia toda a minha entranha.
Estranho, castanho, restolho,
Oh, Deus, que vida tacanha!

Cintila o brilho sentinela,
punindo meu peito ateu,
minha vida não arma tranela
pr'um olho atento, o Teu.

Fez-me um autor de protestos?
Fez-me um ator de demandas?
Tua voz - não escuto!  mas mandas,
deitado no céu - o meu teto.

Fez-me um leitor de processos?
Dá-me um vigor ouriçado!
Se houvesse ao passado acesso,
um novo e mais belo traçado:

Seria um homem do campo,
louvando a bela Marília,
mas o belo campo é mentira,
e Marília nunca viu um santo.

Ah, Deus, todo dia medíocre,
rasteiro, horrível, sovina,
maldosa, ladina e malina,
minha alma é suja e ocre.

Le silence eternel de l'espace
me assusta e Tu nada respondes.
Corajosos, dizem-me, tua face
Paradise e que Tu te escondes.

Eu aposto na Tua presença,
mas não sou um bom apostador.
Em todas as apostas da vida:
Só souffrance, tédio e dor.


Solução provisória:

Se nós somos sós,
Se não temos voz,
Se só somos seus,
Se não somos Vós,
Se não somos, Deus,
Por que devo crer em Ti?
Se somos só morte...
E adeus?

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