Prólogo:
Não tive nada na vida.
Da boca, apenas a culpa.
Soluço; proponho a saída:
um belo gole de cicuta!
Desenvolvimento:
Na boca mora o teu olho,
Vigia toda a minha entranha.
Estranho, castanho, restolho,
Oh, Deus, que vida tacanha!
Cintila o brilho sentinela,
punindo meu peito ateu,
minha vida não arma tranela
pr'um olho atento, o Teu.
Fez-me um autor de protestos?
Fez-me um ator de demandas?
Tua voz - não escuto! mas mandas,
deitado no céu - o meu teto.
Fez-me um leitor de processos?
Dá-me um vigor ouriçado!
Se houvesse ao passado acesso,
um novo e mais belo traçado:
Seria um homem do campo,
louvando a bela Marília,
mas o belo campo é mentira,
e Marília nunca viu um santo.
Ah, Deus, todo dia medíocre,
rasteiro, horrível, sovina,
maldosa, ladina e malina,
minha alma é suja e ocre.
Le silence eternel de l'espace
me assusta e Tu nada respondes.
Corajosos, dizem-me, tua face
Paradise e que Tu te escondes.
Eu aposto na Tua presença,
mas não sou um bom apostador.
Em todas as apostas da vida:
Só souffrance, tédio e dor.
Solução provisória:
Se nós somos sós,
Se não temos voz,
Se só somos seus,
Se não somos Vós,
Se não somos, Deus,
Por que devo crer em Ti?
Se somos só morte...
E adeus?
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