segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Verdun

Pouco importa, mulher,
Se hoje não acordarmos cedo,
Não haverá lagrimas, beijos ou fé,
Muito menos lamentos de medo.

Pouco importa, mulher,
Se amanhã não tiver o meu braço,
Haverá com certeza na parede
O retrato de nós dois juntos e a montanha
Imensa como a solidão no coração do homem que parte.

Também não importa, mulher,
Se não conquistei os meus sonhos,
Outros tiveram meus sonhos, por mim fizeram escolhas,
O que posso fazer? Resignar-me e cumprir o meu destino mortal,
Bater-me com outros iguais e deixar minha pele frágil derretida no asfalto.

Não importa, mulher, o teu choro
É vão. É nada. É lixo. É água, nada mais.
Nunca irão te ouvir, minha bela, melhor não te importares,
Sabias disso quando a mim escolhestes.
Nunca seria juiz de província, nem dono de fábrica.
Conflito algum me favoreceria, mulher,
Apenas nos afastaria, apenas me arrancarias do peito.
Não valho o teu choro. Valho alguns francos e uns kilos de ferro.

Nada importa, mulher, nada
Em mim, nada, nunca importou.
Outro amores terá, assim como amores já teve,
Assim como outros homens já deitaram no teu corpo,
Sorveram o mesmo suspiro, e eu que tanto me desesperei por isso,
Hoje vejo: nada importa, nunca importou, a vida não importa.

Viver não importa, mulher,
Portanto não chore. Hoje eu vou,
Amanhã será você, depois o filho guardado na cintura,
E nada mudará. Os mesmos mandarão, os mesmos
Sempre. Mesmo assim, também não importa. Eles
Também morrerão. E todos morreremos. Se hoje parto
Para morrer por aqueles que não são os meus, eu
Já morri.

Viver, para quem vivi?
Por quem esse farda, essa lã?
Vida vã, vida farsa,
Apenas mais um, apenas
Um homem, carcaça,
No chão de Verdun.

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