terça-feira, 16 de setembro de 2014

Súplica Parisiense

à L.

Vem
beija o meu beijo
beija. Foi o começo!

Só te exijo amor.
Quero tua fronte límpida.
E lamber tua frente retinta.
Sentir o teu hálito quente
nas manhãs geladas de Paris.

Juro que te aqueceria!
Seria teu filho e teu berço,
Tua aliança,  teu boneco de gesso.
Deixo-me até moldar.
Molda-me e me mude
Torna-me um homem melhor.

Ou então, cale-me a boca.
Pois, às vezes, queria ficar mesmo é mudo
Pra ouvir o teu sussurro de menina,
o teu gemido,
essa singela música
que embala os meus sonhos.


Serei eu o teu avesso
Por isso o nosso difícil encontro?
Todas as manhãs tem essa coisa que aperta o meu peito
Acho que se chama Saudade.
Em Francês, uma parte de mim que me falta
- Aristófanes, não Platão -
Ai, mas é meu peito indo-lusitano que não cansa de te gritar!

Vem, agarra o meu braço,
segure minhas pernas,
arranhe minhas costas
e vamos fugir.

Para onde vou te levar não existe mais ninguém.
Tem uma pequena fonte de água cristalina
em que o brilho do teu rosto irá se refletir todos os dias ao acordar.
E não haverá tristeza. E não haverá choro. E não haverá nada.
Mas, meu amor, eu me pergunto:
Se não houvesse choro, se não houvesse tristeza, haveria nós?
Talvez sejamos unidos pela nossa tristeza e solidão.
Que seja! Hélas! Lá haveria arte, apenas. 
O teu corpo entrelaçado ao meu como a serpente que entrega a maçã pecaminosa.
E, eu, inocente, entregando-me. Pois nada mais quero. 
Eu sou entregue. 
Sou prisioneiro da bastilha dos teus braços
e a única revolução possível é aquela que grita a tua igualdade
- a tua igualdade, mulher, minha rosa, um mundo igual para que floresças -
a nossa liberdade e a fraternidade:
Os nossos filhos, todo o porvir.

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