terça-feira, 23 de setembro de 2014

Desespero

A poesia vem como um relâmpago,
Rasgando o céu e ardendo a carne.
Há de se estar preparado, Rafael,
Seja sempre senhor de Si,
E perca-se no momento exato,

Sim, perder-se é essencial.
A poesia é o teu Deus.
Por isso, não confie em poetas.
Confie na poesia, na tremelidão,
Na ardência pleusmática dos nervos
E na musa que te lembra a vida.

A vida não tem sentido.
A arte é inútil.
Só o amor é algo, só o amor, Rafael.

A poesia é arte inútil,
Mas vem como o Amor,
Como a paixão, arrebatadora
E frenética, ou nem tanto,
É atlética, é parva e voraz.
Rasga tua intimidade e te lança
No imenso abismo do mundo.

Ainda duvidam da tua verve, Rafael,
Ainda te querem firme
E forte e inumano.
Mas, não, a poesia última é vibração.
Está além da razão, está no corpo,
Está em tudo. Está no meu amor,
principalmente no amor.

A poesia é a guerra alemã
E eu sou a linha Maginot.
Ela vai me vencer
e eu estou desesperado.
A poesia se aproxima:
Está na rua casabranca,
E eu sou Marighella.
Ela vai me matar,
com toda certeza,ela vai.
Ela nem será punida...
No máximo, canções a meu respeito
E homenagens estudantis.
Mas, meu amor, se eu morrer,
A culpa é tua, que me lança nesse estado de nervos,
A culpa é da embriaguez causada pela saudade.

Eu estou pronto.
Se a poesia me matar,
Não é por ela que morro,
É por você, meu amor,
E pela vida. Pois é só uma a verdade:
Os homens morrem e eles não são felizes.

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