Ele é forte.
Músculos torneados,
Maltodextrina abundante,
Bíceps que parecem marretas,
Costas feito tronco de cipreste.
Ele se exercita zombando da insignificância dos seres do mundo.
Seres miúdos, tais como formigas e insetos de todos os tipos.
Ele é único em grandiosidade muscular.
Ele se atreve a me olhar.
Percebe que o observo.
Olhar duro,
intimidador e
assustado.
Olhar duro.
Não sabe o porquê dos olhos
que olham.
Ele se aproxima vagarosamente
seus passos são tonitruantes
Elefantásticos.
Torço para que venha e seja interessante como seu corpo bruto:
Não venha falar de carros, sexo, mulheres,
músicas da moda, porres monumentais...
Para falar desses assuntos,
falemos de Chuck Berry e do Rock 'n Roll
- mas daí é exigir demais.
Torço para que se lamente de ter gastado a vida em repetitivos movimentos.
Ironia: gastado a vida ao tentar preservá-la.
Ou ainda pior, tentando impressionar os facilmente impressionáveis.
Quero abraçá-lo. Quero chorar com ele.
Torço para que faça uma piada sagaz.
Talvez sobre a situação do país, o não vai ter copa,
a incompetência do governo paulista em relação à falta de água.
Quero mais, aliás!
Quero que falemos sobre a triste situação de sermos cobaias de Deus.
Quero que falemos sobre a alegre situação de Deus não existir.
Quero que falemos sobre a Revolução Brasileira.
Não. Não sei se deveríamos.
Sinto inveja dele, confesso:
do modo como se aproxima das garotas nas baladas,
da rigidez na carne abdominal,
da lânguida e fagueira imagem despreocupada.
Um self made man do corpo.
Ele não pára de se aproximar
como um Leão a espreitar sua vítima.
Consigo sentir o hálito do ódio.
Sinto pena. Sinto náusea. Comichões.
Nele não existe culpa.
Acho que a boca se abre.
Prepare-se,
ele vai dizer!
“Posso revezar com você?”
Ele triplica o peso.
A vida segue.
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