domingo, 13 de abril de 2014

Dia do Beijo

Enquanto festejou-se o beijo
bocas secas fremiram de pavor
e a cólera foi me colorindo,
cresceram até comichões na minha carne,
houveram culpas pecados lamentações,
viúvas choraram e as moças abandonadas na Central Do Brasil
reclamaram da pouca felicidade, da infância sofrida e do amor
tchau

Aos que tem outra boca, 
uma boca pura e cara,
o encaixe mais-que-perfeito,
aquela cachaça humana,
que nos abana no calor
e no frio nos inflama,
ah... uma cura, uma criatura,
não entendem a inquietude da perda.


Não é uma perda amorosa, pobre homem, entenda!
É a dor humana, estúpido:
Hoje um menino foi espancado e deixou sua mãe sem beijo em casa,
É quase maio, as mães-viúvas são velhas 
e o beijo da morte é o único que lhes resta!


Brecht, salve-me, você estava certo:
não podemos falar de beijos ou de flores
se os beijos só trazem dores
e as flores só mais aperto.


Hoje foi dia do beijo, disseram-me
Ainda espero pelo meu beijo
o beijo que alargará meu pequenino coração.
Não o beijo que anima a poesia,
aquele que sustenta a luta, 
uma boca Clara, uma boca Rosa.
Neste meu coração drummondiano 
não cabem nem as minhas dores mesquinhas e estúpidas.
Preciso alargá-lo. Preciso torná-lo flecha.
arremessá-lo ao ponto mais longe do mundo e recolher 
a humanidade e seus escolhos.
E beijo a moça, e beijo o fraco, e beijo o faminto,
e te beijo também, pois também sou fraco e tenho fome.
Beijo tua boca ferida, beijo a vida,
beijo e sinto o cheiro do ralo.
No dia do beijo, rogo-lhe tua boca Frida,
que se a tiver já não mais me calo!

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