terça-feira, 25 de março de 2014

Entre livros e lèvres

Entre livros
e lèvres,
entre agravos
e grèves,
alterno entre
dor e esperança.

Todos os dias
emboto meus desejos
com o nó da gravata
da garganta
ao abotoar o paletó.
O sapato engrachado
encaixota meus pés
e sonhos.

Como poderia eu, homem,
fruto de um amor finito
devasso,
fruto do tempo histórico
espírito
fugir da conformidade
pequeno-burguesa
e alçar um vôo universal?

Minha angústia
em nada se compara
à dor da mãe
arrastada
arrancada da vida
pela força policial.
Ao choro de fome
dos meninos sem nome.
À culpa sem culpa
dos sem escolha
dos sem escola
dos sem.

E eu lamentando-me por ser só?!
E eu lamentando-me por não ser Deus?
E eu lamentando-me por não ter um amor?!

Dêem-me licença, burocratas:
agora não é hora de passar com a minha dor!
Já não nos agrada os agravos!
Já faz tempo e a dor é muita!
A chama da esperança que
parecia apagada se renova!
São novos brados, são novas brasas, são novos bravos!
O galo gaulês há de cantar novamente agora
sob a roupagem de uma matreira arara-azul.

Não sou Deus.
Sou somente um.
Sou só.

Entre livros
e lèvres,
busco o meu caminho
sabendo que não,
não há um "meu caminho"
sem o caminho da multidão.

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